quinta-feira, 24 de outubro de 2013


que nós estamos limitados.... estamos!
mas podemos ampliar nosso olhar
cada vez mais
talvez não achemos nada
mesmo diante de um horizonte
não sabemos o que acontece do outro lado
mas não custa tentar
pelo menos o horizonte alcançaremos

sábado, 17 de agosto de 2013

Breviário ao Deus impotente

Abraxas, envie-me a imagem da virgem
não deixe as crianças serem corrompidas por moralidades
traga esse titã, me torne cosmo

Pra que ler, se não é para contar?
Pra que ouvir, se não é para sentir?
Pra que ser um cristão, e não amar seus irmãos ateus
E pra que ser ateu, e isolar-se do conhecimento cristão?

Por que nascemos sem o estranhamento da existência
e no futuro... matamos essa essência, por medo?
Por que nos foi dado a consciência, dentre todos os
seres sou só eu um desses miseráveis humanos?
Talvez Deus, o senhor seja tão miserável quanto, e
porque então culpamos-o?

Quando estiver caminhando pelo jardim do éden
mostre-me o vale escuro das sombras

E aqueles que sabem e conhecem de tudo
que façam uma festa em sua alma
e transbordem isso para seu corpo

Faça-me esquecer meu nome
Faça-me ouvir  e ver o mundo sem palavras
A árvore não é árvore, é cosmo
a rua não é a rua, é cosmo

O calcinatio e a purificação
As vezes devem queimar uma cruz
para que haja luz


LHM




sexta-feira, 16 de agosto de 2013

E Quando pensava que era pura intuição
e que já tinha vendido a minha alma:
A SENSAÇÃO
LHM


O meu contato com o mundo
A minha dosagem com o dia
A santa intuição
já me fazia isolar e amar...
amar as coisas sem tocar

tremia, eu tremia
e eu temia, eu temia

Querendo banhar meu Sol no corpo
Eu sendo meu corpo
Eu sendo meu Sol
Eu, então, a única coisa fervente mente Sã

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Um dia pegaram Hermán,
Hermán era chefe de uma guerrilha da colômbia
E a virgem veio até seus braços
enquanto estava sendo torturado por demônios

Arrancaram-lhe as mãos para não fazer
a cabeça para não pensar
o genital para não se reproduzir
os pés para não andar
e penduraram seu cotoco em uma árvore
na beira de um rio
e suas gotas de sangue escorreram até...
e o rio foi
e o rio veio
levando aquele vermelho
aquele "sangre"
e alguém bebeu
água pura

uma voz chamou
uma voz ainda chama
"Chama, me chama
Quando estiver caminhando
no jardim do éden
mostre-me o vale escuro
das sombras
chama ilumina
chama esquenta
chama-me para um lugar, e a chama apagou!"

E essas palavras carregavam uma imensa vontade
que em-si e antes disso a sua imagem

                                             Em memória aos opressores/oprimidos do narcolombiano

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Não é se você acredita em Deus...
                     mas em que Deus você acredita?
Não é se você acredita em Inferno...
                     Qual Inferno você teme?
Não é quantas mortes você viu...
                     Qual morte você mais sentiu?
As ruas são como corpos celestes do paraíso
Os mares... a mais profunda alma, com seu caos emergido e seus tesouros afundados
e o Deus que em mim habita tem sua existência nas conversas mais calorosas
e a morte que sinto não é diferente do tédio daqueles dias sem alguém para me cobrir
e meu inferno, que mais amo, está aqui e ali nessas pessoas que andam e andam, pensam e pensam
talvez todo dia seja um nirvana, e eu não sei

LHM

segunda-feira, 15 de julho de 2013




Viver na escuridão não é estar nas sombras,
a luz cega,
a falsa ilusão
a penumbra é a ponte que
entre o cheio e o vazio há
vácuo da existência, o estofamento da vida

viver e existir
gêmeos que nunca se viram
mas que carregam o mesmo caixão
o intelecto se expressa em grãos
e os grãos se vão

Proxeneta de Bonobos
Peste dos arranha-céus
budismo niilista
confúcio facista

quando abrirá os olhos
dos olhos eu não sei
da intuição virá
intuição nunca pensei
nem pensará
não se pode cremar
aquilo que não se pode acessar
nessa mente que mente
como sempre nos tortura
à voltarmos a razão

Amar ou pensar
Ser ou existir
quem decidiu 
já deve ter dito
"eu sou"


LHM

sábado, 29 de junho de 2013

É tudo culpa do...

     É tudo culpa daquilo que Hemingway achou em Cuba, daquilo que Thoreau encontrou nos bosques, que Kerouac achou em Cassady, o que Huxley entendeu com a mescalina... Aquilo que meu pai vê numa boa noite de sono, o que minha cachorra sentia ao sair de casa, e até estava presente quando minha mãe dizia "Talvez um dia eu nunca mais irei precisar me preocupar com o almoço!". Infelizmente somos também culpados.
-Isso é tudo UTOPIA!-alguém expressou sem expressão- pra quê? 
-"Pra quê?"- me senti intimidado
-Você não acha tudo isso tão utópico? Não serve pra nada...-bufou- É preciso se preocupar com a realidade, voltar seus olhos pros problemas de nosso país, agir para muda-los, participar de um movimento, frequentar reuniões dum sindicato qualquer... num sei -suspirou- talvez marchar contra a corrupção e a favor da família, doar alguns miolos pros pobres, fazer algum serviço social! Isso que é necessário! Direcionar seus olhos para problemas reais!
-Pra que né...?
Ouvi o mesmo discurso saindo dos lábios secos do meu avô:
-Para que você quer fazer isso? Como você vai ganhar dinheiro com isso? Como você pensa em educar seus filhos pensando assim? 
E de minha professora:
-Para que você desenhou isso? -olhou desconfiada- É nazismo?
-Não professora! É Taoísmo!
Para que? Eike agiu muito para atender esse mundo, não devia nada para ele(é oque acreditava). Só queria uns minutinhos para poder liberar sua criança do mundo dos sonhos para compartilhar com outrem. Mas pouco conseguia isso, valorizavam apenas o adulto, aquele amadurecido, voltado para as coisas sem sentido da vida. E pensavam que suas ações tinham sentido quando diziam "para que?".
Eike sabia que eles também possuiam alguma utopia, sabia disso muito bem, porque tinha esperança, porque era um ideólogo. Que grande merda!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Misantrópico

     Essa solidão... 
     Caminhava como um profeta em uma estação de trem, lá estava um relógio bem em cima de mim e um bebê chorando dentro de uma lata de lixo; foi aí que acabei vendo uma fotografia, dos anos 40-50, de uma tenda com diversas capas de "livros banidos e obscenos". Howl estava lá... agora é tão fácil ter esse texto em mãos, mas garanto que vende menos do que naquela época de repressão. O paraíso é aqui, foi aqui.

     Mais vale encarar o absurdo do que me iludir com verdades, Schopenhauer já dizia sobre a irracionalidade da vida: onde não há necessidade.... há tédio, e por certo de uma vontade que nunca é suprimida, porque é a vontade que move o mundo. A vontade de uma planta crescer, a vontade de um ser nascer. Tudo parte dessa vontade irracional de ter vontade, daí a nunca realização, daí o sofrimento de não se realizar.

     Era incerta a tempestade naquele abafado final de tarde. As ruas se enchiam de carro e pedestres agindo como formigas correndo para o formigueiro. Tinha passado meu entardecer numa pracinha sentado sobre a grama ouvindo um ser proclamando seus poemas e dizendo coisas profanas, fiquei em silêncio.
     "CAROS CONTEMPORÂNEOS, venho proferir a palavra da suprema Senhora in vitro, santa seja, santa, santa!
Há nesse século INÚMEROS revolucionários sem ESPÍRITOS e sem rostos, Abraxas devia nascer na juvenilidade, mas não há quem chocar seu ovo, ninguém que acolha seus sentimentos, viramos abutres, vagando sobre a terra avermelhada ansiando por carne. ANUNCIAM-SE ,então, as tempestades com suas nuvens acinzentadas e seu vento resfriando os pulmões cheios de muco do tabaco e do catarro. Amamos os outros como amamos a nós mesmos, e transferimos nossos problemas neles, porque o outro serve como um espelho em um mundo cheio de sombras, vagando sem se envolverem. Senhores, não sei se por conforto ou por ingênua auto-análise que pessoas rompem a integridade entre suas palavras e suas ações. A vida ativa se tornou tediosa, enquanto a vegetativa: uma necessidade. Vejo anarquistas repugnando o Estado, mas pouco sabem sobre auto-disciplina, e relacionando seu grande "A" à confusão e destruição não passam de adolescentes mal resolvidos. Mas infelizmente é o próprio estado, a mãe desses anarquistas de pichação, pois ela não cria autonomia, ela quer que lhe sirvam de PARASITAS e que cada um tema seu próximo. Pois o homem que substitui a teologia, dizendo que ela é o ópio do povo, por uma ideologia qualquer, se ilude. Quem não mostra a cara, tem medo de ser ferido, quem se esconde EM IDEOLOGIAS, suspende a auto-crítica.  PORTANTO, queimais a "veja" no inferno, porque ela é como um esgoto, sua capa um bueiro, transmitindo a peste para todos que tentam sair pelas ruas.  E NÃO TROCAIS O SIGNIFICADO da bebida, pois muitos estão usando-a como fonte, para suportar os outros ao seu redor. Ouça sua criança, e não faça apenas o que tua mente pede, faça aquilo que tu entendes como certo. DO BEM, DO MAL E DO TITÂNICO serei a tudo um todo."
      Tive que ir para casa, já passavam das vinte horas, e aquele pagão continuava recitando as mesmas palavras sem parar, não suportei, estava com fome e decidi comer um omelete.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Morar aqui

     Tudo que pude imaginar foram luzes, quatro cores especificamente sobrepondo um fundo negro no meu mundo de sempre, imaginando coisas como em um sonho alucinógeno. Sempre pensava muito, muitas coisas sobre variados assuntos, de gastronomia à práticas pedagógicas, mas nunca quis colocar isso no papel... estava esperando chegar a uma maturidade para o fazer, mas acho que sempre adiantarei essas coisas, nunca me sentirei preparado para tal. 
     Uma moça vestida de modo "alternê" sobrepôs seu casaco sobre meu peito, nesse momento saí daquelas cores e encarei um mundo mais amarelo, um pouco mais cru e vazio, feito por esses postes de iluminação. Ela olhou para meus olhos com uma preocupação que só via nos olhos da minha mãezinha
-Está frio esta noite, oque faz um homem arrumado como você deitado neste ponto de ônibus?
     Encarei seus olhos e soltei um leve sorriso retribuindo seu favor, mas não quis responder sua dúvida, estava feliz com meu pensamento naquelas luzes... naquela brisa, simplesmente, não havia necessidade nenhuma de explicação. Mas senti sua angústia
-Estou aqui simplesmente... quer dizer, estava
-Como assim?
-Estava no meu mundinho, vivendo meus delírios e você?
-Estava dando uma caminhada antes de ir pra casa, não tenho muito compromisso com meu sono, acabo acordando bem, mesmo dormindo pouco...
-É que você sonha demais, como eu
-Desculpe, se fui muito brusca em começar uma conversa contigo, é que eu sempre tive essa vontade de conhecer alguém e começar um papo estranho com alguém estranho e depois obter alguma iluminação que me faça entender melhor essa tal "vidinha triste"
-Sei bem oque tu pensas, na verdade acho que tenho pouco carvão em minhas palavras pra poder queimar algo na tua cabeça
-Como você veio parar aqui então...?
-Foi uma curta história... mas o importante é como poderia continuar; talvez... Mas digo que o primeiro dia na rua é o pior, porque tu ainda tem esperança de que tudo volte ao normal, que alguém te acolha e te leve para casa, que te ofereça uma oportunidade e você acabe saindo nos jornais como exemplo de superação de vida, mas você acaba, com o tempo, esquecendo disso, não que você deixe de sonhar, mas seus sonhos são transferidos para outras coisas, quer dizer, para outros meios, principalmente para pensamentos como: "irei acordar com a vida intacta amanhã?" Até descobrir que não há volta, você descobre novas formas de experimentar a tristeza, e tua vida começa a se tornar uma mistura de tédio e necessidade, só quando se resgata os sonhos, os delírios, as utopias é que a vida volta a ser mais leve... Isso não fui eu quem experimentei, apenas tive uma conversa com um senhor de meia idade, que foi encontrado morto na praça do "peladão" esses tempos atrás, infelizmente não é a minha história, por isso desculpe moça, sou apenas um universitário descansando seus desejos reprimidos em um lugar qualquer, mas se posso lhe dizer uma coisa, é a seguinte " Eu pensava que sonhar era fugir da realidade, mas vejo hoje que sonhar faz parte dela" 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Feliz formalidade

Há quem seja feliz nessa vida?
Talvez aquele que saiba conviver com a tristeza
Ou mesmo aquele que aguenta o silêncio dos outros
quem sabe muito daqueles que se contentam em dividir mágoas consigo mesmo

Aqueles que nunca tocaram o absurdo
A menina que não se frustra com possibilidades, escolhas, mas vive...
vive pelo determinismo social do horóscopo
e o garoto do bar que é revolucionário, mas...
usa máscaras

Aqueles que leem romances de virtudes duvidosas
Ou aqueles que não perdem a intensidade majestosa do calor, do amor ou do sabor
Aqueles que amam e sempre amaram, e que já perderam, mas nunca ganharam
Ou muitos que imortalizam os outros para serem imortalizados

Aqueles que sofrem, mas sonham
Aqueles que sonham, mas dividem...
seus delírios
Uns que são ouvidos pelo psiquiatra e outros...
 que apenas uivam para seu cachorro

O moço rígido, frio, curto e breve
A senhorita minimalista, reclusa e frágil
Aqueles que escrevem e tentam expressar tudo aquilo que não possuem
As pessoas que espelham seus problemas nos outros
Os velhos que vivem em frente da tv, contemplando a máquina
talvez, mas talvez, os negociadores de prazeres, as quimeras miseráveis das orgias
Aquelas que em náusea se refugiam no som do jazz

Se eu opto pelo bem ou pelo mal?
Para mim toda ideia é "amoral", não "imoral"
Se fosse eterno... não saberia 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Caro Alfred Fessard,

        Procurei teu nome em enciclopédias e em listas telefônicas... em sites, em bibliotecas, só achei um texto em francês de uma moça sobre você. Dizia ela, por intermédio de meu dicionário bilíngue, que tu tivera contatos com os maiores e mais belos intelectuais de sua geração, Darwin, Wundt, James... e até mesmo com aquele eugênico do Galton; Pois bem, não consegui muito bem entender a sua teoria sobre a consciência em seres ilusórios, teria os meus seres inconscientes um mínimo de consciencia? Não sou capaz de ter consciência sobre minha totalidade, mas os seres, as pessoas que gero em minha mente possuem esse dom? Ou seja, sou puraS matériaS ambivalenteS conflitanto ou somos em minha mente um nós e não um ego cartesiano? Infelizmente soube, por intermédio da moça francesa, que você morrera de solidão e embriaguez... bem típico senhor Zard! Mas se ainda tiver um tempo para transitar do mundo dos mortos para este paraíso, prometa que trará mais teorias! Aliás, traga mais perguntas pra cá, prometa! Sei que na sua época os homens eram perseguidos por perguntas, mas os tempos mudaram, agora somos perseguidos e abusados por respostas! Bombardeados por informações, e por incrível que pareça, mesmo morta, Clarice Linspector continua compondo novas frases para o seu público, por isso tenho esperanças que um dia você também continua produzindo algum conhecimento... mesmo morto poderíamos passar horas discutindo alguma coisa que não seja religião, homosexualidade ou corrução, talvez, mesmo que eu não esteja mais acostumado, talvez... Mas me diga, você é brasileiro, certo? E o único fragmento sobre sua vida está em francês, como isso aconteceu? Além disso, por que não publicou nenhum livro? Pretende ainda mandar seus textos para serem organizados em uma editora, com uma capa misteriosa e um título bacana, para ficar exposto no miúdes de uma livraria competindo com livros de obviedades? Bem, desejo que você tenha bons momentos aí em baixo com os demônios de sua razão, não se esqueça de traçar pactos com esses tais filósofos existencialistas, te dará um pouco de esperança... talvez!

Um grande aperto de mão, e uma boa não vida!
                                   De um desconhecido, leitor de obras sobre autores

segunda-feira, 4 de março de 2013

Acrópoles dos sonhos

      No distrito da solidão se encontra a pobreza, fria, pálida e seca

E no calor do bairro das ilusões vive 

o povo,          aquele que sofre, mas sonha
                   aquele que sonha e divide       em ambientes apertados        seus delírios
                quente, 
             corado, 
           robusto

      No distrito da solidão cada homem tem o direito de possuir cem metros cúbicos de vácuo puro e mais um pequeno porão para repousarem suas angústias e esconder sua loucura


Já no bairro das ilusiones é dever das notas ontomusicais" do jazz se expressarem pelo devir". Sax. Saliva. Neon. Aqui o silêncio é proibido, uns uivam, outros amam e sempre amarão, perderão e logo ganharão


      No distrito da solidão a alma penada ânsia o nada, o não-ser e a ditadura burocrática
N

bairro das ilusões o libitus" é bebido e tudo sobre a existência é discutido com humilde paciência Negros são as ruas, as almas e os corpos; Negro não pela escuridão, mas pela vasta vida, assim como a terra mais escura é a mais fértil. Viril. Canha.

Em ambos os bairros há tristeSSa, mas um acabou...

        sabendo
    dançar
com ela

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Camus, "Há uma lógica que chegue até a morte?"

       Ateu, argelino, existencialista, teatrólogo, filósofo graduado e escritor(e um prêmio nobel): são palavras jogadas que poderiam estereotipar e resumir a vida de Albert Camus.
        Mas à frente de seus colegas existencialistas, Camus estava procurando não apenas "Se o mundo tem 3 dimensões, se o espírito tem  nove ou doze categorias, isso vem depois...", dizia ele que, "Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio". E é assim que começa o seu livro "O mito de sísifo", sem nenhum ornamento Camus vai direto ao ponto e enxerga o absurdo na vida. Aqui esse absurdo pode ser o impossível e também, de certa forma, um confronto entre o ser e o mundo que lhe aparenta ser estranho, ou mesmo o ser que se vê um estranho no mundo. Não pense que é um livro de auto-ajuda, muito pelo contrário, é um livro amargo, mas que inaugura ou reencarnar "um movimento de consciência".
       Tal como Freud, Camus recorre à mitologia e tenta explicar um problema da vida pós-contemporânea. Sísifo, o personagem mitológico, é condenado pelos deuses a "empurrar incenssantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram , com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança" a relação que Camus estabelece nada mais é do que com a rotina que temos, a de acordar, tomar café, ir ao trabalho, almoçar, voltar ao trabalho, jantar, dormir, de segunda à sábado (sempre a mesma coisa), até que um dia surge o "por que" de tudo isso acompanhado de um certo esgotamento(é o momento em que sísifo vê a pedra cair), mas de certa forma somos levados de novo à nossa rotina(sísifo, então dá um suspiro e volta a empurrar a pedra para o alto), o problema é que com o tempo o despertar volta a cada pedra caída e uma hora haverá a consequência: "o suicídio ou o restabelecimento."
        Em "O estrangeiro",outra obra de Camus, Meursault, o personagem do livro, leva a vida com certa indiferença e niilismo, diz diante do juiz que matou um árabe por causa do Sol... é uma obra curta, constituída por duas partes: a primeira é formada pelos fatos que levam ao assassinato sem grandes motivos nem qualquer planejamento, e a segunda parte se passa durante o julgamento do homicídio.
É um livro que deve ser meditado e discutido, há muitas partes que Meursault põe em xeque instituições como a religião e a justiça, simplesmente por ser indiferente aos valores e crenças dessas. A justiça por exemplo não consegue julgar seu ato e sim a forma como ele leva a vida. Ao ser interrogado pela morte do árabe e os tiros posteriores na vítima já morta, Meursault simplesmente não mostra motivo ou explicação para a ação que tomou, o que aborrece o juiz que espera explicação para tudo.
 "Por quê? É preciso que me diga. Por quê?" Eu continuava calado. Bruscamente levantou-se... tirou um crucifixo de prata e, agitou-o no ar, voltando para o pé de mim....olhando-me de alto e perguntando-me se eu acreditava em Deus. Respondi que não..."Quer o senhor, exclamou, que a minha vida deixe de ter sentido?" Eu achava que não tinha nada com isso, e disse-lho."
       Em certa parte o chefe de Meursault critica a falta de ambição do personagem em crescer enquanto um profissional e o personagem principal retruca: "Quando era estudante, alimentara muitas ambições desse gênero. Mas quando abandonei os estudos, compreendi muito depressa que essas coisas não tinham verdadeira importância."Esse abandono do Eros da vida, seria causado pelo decorrer do trabalho de sísifo? Pela descrença de qualquer valor diante de duas guerras seguidas? Ou talvez seja apenas uma paz estóica que o livra do sofrimento? É difícil avaliar, ainda mais por que o narrador-personagem toma tudo em sua superfície nem mesmo satoriza o seu passado. Pensei que ele era apenas um anti-social, mas se tudo lhe é indiferente, então não se importaria em ter convívio com as pessoas. "Sintès... queria pedir-me um conselho...que eu sim, era um homem, que conhecia a vida...e  que ,  em   seguida ,   ficaria  meu  amigo. Não respondi e ele perguntou-me se eu queria ser amigo dele. - Repliquei que tanto me fazia: ele ficou com um ar contente."

bibliografia consultada:
-L'Étranger (O estrangeiro)-Albert Camus
-Le Mythe de Sisyphe (O mito de Sísifo)-Albert Camus