quarta-feira, 22 de maio de 2013

Morar aqui

     Tudo que pude imaginar foram luzes, quatro cores especificamente sobrepondo um fundo negro no meu mundo de sempre, imaginando coisas como em um sonho alucinógeno. Sempre pensava muito, muitas coisas sobre variados assuntos, de gastronomia à práticas pedagógicas, mas nunca quis colocar isso no papel... estava esperando chegar a uma maturidade para o fazer, mas acho que sempre adiantarei essas coisas, nunca me sentirei preparado para tal. 
     Uma moça vestida de modo "alternê" sobrepôs seu casaco sobre meu peito, nesse momento saí daquelas cores e encarei um mundo mais amarelo, um pouco mais cru e vazio, feito por esses postes de iluminação. Ela olhou para meus olhos com uma preocupação que só via nos olhos da minha mãezinha
-Está frio esta noite, oque faz um homem arrumado como você deitado neste ponto de ônibus?
     Encarei seus olhos e soltei um leve sorriso retribuindo seu favor, mas não quis responder sua dúvida, estava feliz com meu pensamento naquelas luzes... naquela brisa, simplesmente, não havia necessidade nenhuma de explicação. Mas senti sua angústia
-Estou aqui simplesmente... quer dizer, estava
-Como assim?
-Estava no meu mundinho, vivendo meus delírios e você?
-Estava dando uma caminhada antes de ir pra casa, não tenho muito compromisso com meu sono, acabo acordando bem, mesmo dormindo pouco...
-É que você sonha demais, como eu
-Desculpe, se fui muito brusca em começar uma conversa contigo, é que eu sempre tive essa vontade de conhecer alguém e começar um papo estranho com alguém estranho e depois obter alguma iluminação que me faça entender melhor essa tal "vidinha triste"
-Sei bem oque tu pensas, na verdade acho que tenho pouco carvão em minhas palavras pra poder queimar algo na tua cabeça
-Como você veio parar aqui então...?
-Foi uma curta história... mas o importante é como poderia continuar; talvez... Mas digo que o primeiro dia na rua é o pior, porque tu ainda tem esperança de que tudo volte ao normal, que alguém te acolha e te leve para casa, que te ofereça uma oportunidade e você acabe saindo nos jornais como exemplo de superação de vida, mas você acaba, com o tempo, esquecendo disso, não que você deixe de sonhar, mas seus sonhos são transferidos para outras coisas, quer dizer, para outros meios, principalmente para pensamentos como: "irei acordar com a vida intacta amanhã?" Até descobrir que não há volta, você descobre novas formas de experimentar a tristeza, e tua vida começa a se tornar uma mistura de tédio e necessidade, só quando se resgata os sonhos, os delírios, as utopias é que a vida volta a ser mais leve... Isso não fui eu quem experimentei, apenas tive uma conversa com um senhor de meia idade, que foi encontrado morto na praça do "peladão" esses tempos atrás, infelizmente não é a minha história, por isso desculpe moça, sou apenas um universitário descansando seus desejos reprimidos em um lugar qualquer, mas se posso lhe dizer uma coisa, é a seguinte " Eu pensava que sonhar era fugir da realidade, mas vejo hoje que sonhar faz parte dela" 

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