segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Camus, "Há uma lógica que chegue até a morte?"

       Ateu, argelino, existencialista, teatrólogo, filósofo graduado e escritor(e um prêmio nobel): são palavras jogadas que poderiam estereotipar e resumir a vida de Albert Camus.
        Mas à frente de seus colegas existencialistas, Camus estava procurando não apenas "Se o mundo tem 3 dimensões, se o espírito tem  nove ou doze categorias, isso vem depois...", dizia ele que, "Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio". E é assim que começa o seu livro "O mito de sísifo", sem nenhum ornamento Camus vai direto ao ponto e enxerga o absurdo na vida. Aqui esse absurdo pode ser o impossível e também, de certa forma, um confronto entre o ser e o mundo que lhe aparenta ser estranho, ou mesmo o ser que se vê um estranho no mundo. Não pense que é um livro de auto-ajuda, muito pelo contrário, é um livro amargo, mas que inaugura ou reencarnar "um movimento de consciência".
       Tal como Freud, Camus recorre à mitologia e tenta explicar um problema da vida pós-contemporânea. Sísifo, o personagem mitológico, é condenado pelos deuses a "empurrar incenssantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram , com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança" a relação que Camus estabelece nada mais é do que com a rotina que temos, a de acordar, tomar café, ir ao trabalho, almoçar, voltar ao trabalho, jantar, dormir, de segunda à sábado (sempre a mesma coisa), até que um dia surge o "por que" de tudo isso acompanhado de um certo esgotamento(é o momento em que sísifo vê a pedra cair), mas de certa forma somos levados de novo à nossa rotina(sísifo, então dá um suspiro e volta a empurrar a pedra para o alto), o problema é que com o tempo o despertar volta a cada pedra caída e uma hora haverá a consequência: "o suicídio ou o restabelecimento."
        Em "O estrangeiro",outra obra de Camus, Meursault, o personagem do livro, leva a vida com certa indiferença e niilismo, diz diante do juiz que matou um árabe por causa do Sol... é uma obra curta, constituída por duas partes: a primeira é formada pelos fatos que levam ao assassinato sem grandes motivos nem qualquer planejamento, e a segunda parte se passa durante o julgamento do homicídio.
É um livro que deve ser meditado e discutido, há muitas partes que Meursault põe em xeque instituições como a religião e a justiça, simplesmente por ser indiferente aos valores e crenças dessas. A justiça por exemplo não consegue julgar seu ato e sim a forma como ele leva a vida. Ao ser interrogado pela morte do árabe e os tiros posteriores na vítima já morta, Meursault simplesmente não mostra motivo ou explicação para a ação que tomou, o que aborrece o juiz que espera explicação para tudo.
 "Por quê? É preciso que me diga. Por quê?" Eu continuava calado. Bruscamente levantou-se... tirou um crucifixo de prata e, agitou-o no ar, voltando para o pé de mim....olhando-me de alto e perguntando-me se eu acreditava em Deus. Respondi que não..."Quer o senhor, exclamou, que a minha vida deixe de ter sentido?" Eu achava que não tinha nada com isso, e disse-lho."
       Em certa parte o chefe de Meursault critica a falta de ambição do personagem em crescer enquanto um profissional e o personagem principal retruca: "Quando era estudante, alimentara muitas ambições desse gênero. Mas quando abandonei os estudos, compreendi muito depressa que essas coisas não tinham verdadeira importância."Esse abandono do Eros da vida, seria causado pelo decorrer do trabalho de sísifo? Pela descrença de qualquer valor diante de duas guerras seguidas? Ou talvez seja apenas uma paz estóica que o livra do sofrimento? É difícil avaliar, ainda mais por que o narrador-personagem toma tudo em sua superfície nem mesmo satoriza o seu passado. Pensei que ele era apenas um anti-social, mas se tudo lhe é indiferente, então não se importaria em ter convívio com as pessoas. "Sintès... queria pedir-me um conselho...que eu sim, era um homem, que conhecia a vida...e  que ,  em   seguida ,   ficaria  meu  amigo. Não respondi e ele perguntou-me se eu queria ser amigo dele. - Repliquei que tanto me fazia: ele ficou com um ar contente."

bibliografia consultada:
-L'Étranger (O estrangeiro)-Albert Camus
-Le Mythe de Sisyphe (O mito de Sísifo)-Albert Camus