quarta-feira, 14 de novembro de 2012


  O ser e o outro

        Sentado em uma mesa confortável numa lanchonete não muito badalada, onde se pode comer tranquilamente, mexo a espuma do meu capuccino tentando fazer alguma forma com aquilo, pensar na vida nesse lugar é um refúgio.
        Irônico pensar que estou sozinho no meio de tantos outros, e esses outros... pais tentando ensinar seus filhos a comerem com garfo e faca e não com suas mãos; talvez uma garçonete com lindos olhos, perfeitamente redondos e azuis, atendendo um casal de velhos que usando suas alianças, revelam em seus sorrisos um amor eterno. É no meio dessas pessoas que paro de pensar em mim, é uma necessidade momentânea de fazer as pessoas serem grandes, de terem história! Então penso nas vezes em que ignoro a presença do outro; inconsciente de que o outro não é apenas uma paisagem! Aquela garçonete(na minha vida) serve somente para trazer minha comida e recolher os talheres (lambidos até o fim), assim como ela é para mim, eu também sou para ela apenas uma pessoa que paga uma mínima parte de seu salário. Mas é só?! Nesse paradoxo, uma terceira pessoa nos vê como um ciclo, apenas isso, mas eu me acho complexo, assim como a garçonete se vê complexa de coisas que só e somente ela vê: contas a pagar, uma criança à cuidar, um objetivo a seguir... Todas as pessoas são complexas, eu não abro exceções, mas só elas e seus mais próximos companheiros são capazes de enxergar isso; e não só sou que procuro um significado para tudo isso. 
        Até eu falar intimamente com a "olhos azuis" ela não será nada para mim, ou melhor, ela é substituível por qualquer outra que consiga trazer comida para a mesa "17" em que gosto de sentar. Mas eu me sinto bem aqui sozinho, apenas trocando olhares com um pedaço de papel e um capuccino me aquecendo nesse inverno; sorrio para o nada, olho para a janela e volto para o pedaço da fabulosa torta feita pelas "olhos azuis". AH! Uma torta que só ela sabe fazer...e por isso ela não é apenas uma paisagem!

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